No viagem


Para nossa alegria, mais pessoas vão poder conhecer um pouco da praia do Sangano. É que estamos mais uma vez no Viajenaviagem. Quem quiser conferir é só clicar aqui.

Sangano e as praias irmãs

Assim como existe o conceito de cidades irmãs, poderia ser inventado também o de praias irmãs. Desse modo, poderíamos declarar Sangano como praia irmã da Pipa, RN (ou de Arraial D’Ajuda ou alguma praia escondida do Ceará). A princípio, o parentesco pode parecer distante, mas não esqueçamos que um dia estivemos unidos por em um só continente.

Em Sangano, tudo atrai a mira do olhar de uma forma quase plástica. A primeira visão evidencia as cores e formas da natureza de uma maneira intensa. Seus paredões de falésias são impressionantes, grandiosos. O mar, tranquilo, dá boas vindas a quem olha do alto.

A após quase 2 horas de estrada, bem conservada e muito bonita, por sinal, a recompensa é mais do que válida. O mar é agradável, bom para nadar, a areia é fina e as ondas ótimas para quem gosta de um bom banho.

No quesito colorido, Sangano difere das suas irmãs brasileiras pelo tom mais amarelado da sua terra, mas a beleza, com certeza, faz jus ao parentesco.

O local tem uma boa infra para quem quer parar lá por mais tempo, já que conta com hotéis, restaurante e bares. A colônia de pescadores, que fica ao lado, não chega a ser uma cidadezinha, mas tem uma população tranquila e simpática.

Acordar cedo, fugir do trânsito, que aqui é caos, fazer as ligações para juntar a turma e finalmente cair na estrada. Tudo valeu a pena. O último fim-de-semana me levou para um lugar de beleza impressionante, memorável pela imponência e grandiosidade.




Praia do Sangano - II








Miradouro da Lua


Barra do Kwanza, Sangano e Miradouro da Lua. Mais alguns lugares espetaculares para conhecer aqui em Angola. Já estava na hora…Depois de ter ficando em casa no domingo anterior e, consequentemente, sem muito assunto e fotos para um novo post aqui, ontem foi possível dar uma descontada. Valeu muito a pena.




O Miradouro da Lua é um dos lugares mais impressionantes que já conheci. Com sua paisagem desoladoramente lunar, lembra um cenário de ficção científica só que com um mar imenso por trás. A altura do mirante chega a ser vertiginosa de tão alta.



Bem, fotos não dão a dimensão do que é esse lugar. Teria que ser uma puta câmera, com uma puta lente e, óbvio, clicada de um helicóptero. Mas infelizmente a viagem não conta com patrocínio para essa super produção.


Musicas e livros para viagem

“A viagem não começa quando se percorrem as distâncias, mas quando se atravessam as nossas fronteiras interiores. A viagem acontece quando acordamos fora do corpo, longe do último lugar onde podemos ter casa.” Mia Couto, O outro pé da sereia.


Ontem eu dormi pensando que apesar da distância dos grandes centros, todas as dificuldades de acesso e a qualidade da banda larga, que não ajuda, nunca ouvi tantos sons legais e diferentes quanto nesse curto período que estou aqui. Nessa jornada, a música tem sido companhia fundamental e cada vez mais presente em todos os momentos. Não falo só de música angolana, que estou apenas começando a conhecer - tendo cuidado para separar o joio do trigo para não enterrar o pé no terreno movediço do "exótico" -, mas de todo tipo de música. Tenho a sorte de trabalhar em uma sala onde todos ouvem, gostam de conhecer e de trocar novos sons. E isso, de certa forma, ajuda a deixar o ambiente mais tranquilo e faz o trabalho faz fluir com mais leveza.

Um cara que eu tenho ouvido muito é Just Jack. Recomendo e sei que vai, em breve, fazer a cabeça de muita gente. O álbum Overtunes, recém lançado, é pop e é perfeito. O cara não se apega muito a nenhum estilo e passeia por várias influências. São melodias solares com letras muito boas. Os hits são I talk Too Much, Life Story e a sensacional Mourning Morning. Outra descoberta, que para muita gente já é “das antigas”, mas para mim é novidade é Lokua Kanza. Ele nasceu no Congo, tem profundidade musical, estudou os clássicos, já tocou no Brasil e faz músicas de uma beleza impressionante, como Kumba Ngai e Sallé. É ouvir e levitar. Junto com esses, tenho ouvido muito também bandas como Glass Candy, Professor Genius, Boss AC (de Cabo Verde, muito bom) e, do Brasil, The Twelves e Kassim +2. Tem tudo no soulseek, no emule e no myspace.

Junto com a música os livros. E depois de “Quem me dera ser onda”, um livro-quase-um-conto leve e divertido do angolano Manoel Ruy, quem está mandando no criado mudo agora é o “O outro pé da sereia”, do escritor moçambicano Mia Couto. A profundidade e beleza da sua narrativa cheia de poesia e de imagens desconcertantes e a capacidade de inverter o pensamento do leitor, fazendo-o olhar de outro ângulo situações corriqueiras, estão me impressionando muito. Sem contar que a história dos personagens é mesmo sensacional: a relação de Mwadia, que tinha “corpo de rio e nome de canoa” e Zero, que tem em seu pescoço cicatrizes que ele diz serem guelras, herança da metade de sua alma que é peixe. Nessa história, aculturação, crenças antigas, mistérios de serias e padres, busca da identidade cultural e referências à colonização africana se misturam num romance que, com certeza, merece todos os prêmios que vem ganhando. Altamente recomendado.

Paulo Flores no Elinga

Apesar de ser dj e estar acostumado com o universo da noite, devo confessar que não tenho mais idade nem energia para jacas homéricas e afters intermináveis. Para ser sincero, ainda não sei se fico totalmente à vontade na noite. Apesar da prática nesses anos todos. Aqui em Angola, pelo menos em Luanda, a noite é uma instituição. As pessoas gostam de sair e saem profissionalmente. Após um período longo de instabilidade e guerra é normal que queiram celebrar. Lugares não faltam e a farra que começa à noite pode terminar na tarde do outro dia. Para os mais animados, vale a emenda já que muitos insistem em não acreditar que a noite acabou. Pra mim, uma bom programa no sábado foi assitir ao show de Paulo Flores. Ele com certeza está entre os mais populares músicos aqui de Angola. Suas letras celebram a vida, refletem o dia-a-dia do país, a paz recém conquistada, mas sem esquecer das mazelas que afligem a maior parte da população que aqui vive. Já cantou com Gil, fez show no Pavilhão Africano da Bienal de Veneza e aqui é bastante respeitado por seus pares. Sua música é calcada em ritmos locais como o semba. Sábado passado tive a sorte de ver um show dele. Muito bom. O show fazia parte de um evento cultural com performances e instalações. A intenção era ser intimista, mas não demorou muito e a plateia já estava dançando.


O concerto foi no Elinga. O primeiro bar que fui por aqui. Um lugar muito legal, que funciona como bar e centro cultural frequentado normalmente pelo povo mais alternativo. O local possui um teatro, onde acontecem peças e shows, mas fez fama mesmo pelo bar, que abre de quinta a sábado, onde é possível ouvir dub, reggae, dnb, house, techno e o que mais passar pela cabeça do dj que estiver tocando no dia.