Daqui de cima.


Daqui, do alto de um prédio qualquer do Maculusso, observo a cidade ser envolvida por um calor que deixa tudo apático e sonolento, o dia brilha sua luz intensa e cheia de polaridades. As nuvens do cassimbo agora são uma lembrança distante. Lá em baixo, sob o sol nervoso, as zungeiras destilam conversas enquanto calmamente vendem frutas, imunes a tudo. Passantes observam e seguem os seus destinos diários. Um homem de fato azul escuro sonha com a neve sob o sol de 40graus. Perto do Natal todos os sonhos costumam virar realidade, mesmo aqui, em Luanda, onde tudo é beleza e caos, e onde esses elementos se alinham numa métrica única, numa dissonância quase melódica. Cada passo da multidão lá embaixo é um metrônomo que rege essa musica urbana feita de torres, guindastes, tratores, máquinas e gente apressada. São apenas 4 horas desde o último sono, despertado ainda cedo, mas, lá embaixo, a cidade. Essa realidade que carrega um grau de distopia tão grande, uma anomalia social de difícil entendimento. Nessa interzona, onde emoções e sentimentos se constroem e se desfazem com uma rapidez vertiginosa, os olhos são levados a caminhos que desaguam em outros e outros tornando-se muitas vezes dúvidas e labirintos, mais do que certezas. Mas lá embaixo, a cidade. E só a cidade.


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