É nós na fita

Vocês acreditam que o nosso humilde blog foi parar no blog de turismo mais legal do Brasil? Pois é. Estamos no Viaje na Viagem, de Ricardo Freire, ex-redator da W/Brasil e, já faz bastante tempo, viajante e blogueiro de mão cheia. Para comemorar, mais algumas fotos do Mussulo. Ah, o link do Viaje já está no Vavê.










Salvo pelo Mussulo


Depois de uns dias lutando contra um vírus de computador que encheu meu saco aqui, atrasando inclusive esse novo post, tudo que eu precisava era de um fim-de-semana tranquilo, inconsequente e sem maiores preocupações. De preferência em um lugar bem interessante, que eu ainda não conhecesse. Um paraíso com praias desertas, águas transparentes, areia fina, uma baia com mar calmo de um lado e do outro, mar aberto com boas ondas para quem gosta de surf ou pegar jacaré. Difícil? Pode ser. Mas isso existe e se chama Mussulo. Não é nenhum segredo de estado, nem um daqueles lugares escondidos com acesso complicado. Pelo contrário, o Mussulo é uma ilha que fica a apenas 15 minutos de barco de Luanda e é um dos balneários preferidos do povo por aqui. O que faz ela ser ainda mais perfeita é a sua beleza natural, ainda pouco degradada, apesar de estar tão perto da cidade.

Pois bem, sai-se de Luanda para ir ao Mussulo da mesma maneira da que se atravessa de Valença para Morro de São Paulo: de barco. No estacionamento onde se deixam os carros, pode rolar uma certa confusão por conta dos putos que se oferecem para tomar conta do veículo. No pier, você negocia o preço com os barqueiros que vão levar você (pagamos 800 Kwanzas ida e volta). Mas a dica é só pagar na volta com o serviço completo para evitar frequentes “malentendidos”.
A sensação ao chegar é de um lugar que mistura Boipeba com Ilha do Frades. Já na chegada do barco ao pier, você cai direto em um bar muito legal, o Bassulo. Espreguiçadeiras confortáveis, mar limpo e tranquilo com profundidade e temperatura perfeitas para nadar ou dar apenas um bom mergulho são as maiores atracões do lugar. A música também estava muito boa: som lounge e até um pouco de minimal house cheguei a ouvir. O único senão e a rapidez do serviço. Se você conhece o nível de velocidade “Dorival Caymmi”, acredite, pode existir algo ainda mais lento. Mas existe mais diversão para além do Bassulo. Você pode escolher alugar um jet sky (para quem gosta) ou fazer longas caminhadas pela praia, que é mais a minha. Para se ter uma ideia do nível de preservação, você caminha na praia inteira pisando em siris de tamanho razoável e, colocando a mão na areia, você pega fácil, fácil dezenas de mabangas, um crustáceo que é primo da nossa lambreta – em apenas 1 hora pegamos mais de 10 kg, sem brincadeira nem o menor esforço. Apesar de ter uma bela área de mangue, a praia tem areia branca e fina. Outro bom programa é atravessar a ilha e chegar ao outro lado, onde o mar é aberto e as ondas generosas. Não o fiz porque o sol estava de rachar e trazer protetor solar não era nem a última das minhas preocupações antes de viajar.

O Mussulo salvou meu domingo e me levou para o lado de Angola que eu quero conhecer bem mais: o das belezas naturais, em busca de um pouco de tranquilidade que se contraponha à opressão urbana cinzenta que, às vezes, é tão forte nessa cidade.


Estou acrescentando mais dois links ao Vavê. São blogs de amigos. O primeiro deles é o Eu tava aqui pensando e blábláblá, de Cury, que o povo da música aí de Salvador já conhece bem. Cury tem um texto muito legal. É sempre divertido e ótimo contador de histórias. Tá lançando livro em breve. O outro é de Daniel, planejador mais que competente e que apesar de ter começado recentemente como blogueiro, tem se mostrado bastante prolífico e com uma antena giratória apontada para captar muitos movimentos em diversas áreas. É o Em Ítaca. Podem clicar que valem a pena. Por último, esse post é dedicado a Ubaldo, que faz aniversário hoje. Parabéns e um conselho: guarde o meu caruru.

16 Toneladas Angola


Daqui de Angola, Maira, que junto com Mário Sartorello, comanda o programa 16 toneladas (Educadora FM), fez uma edição especial do programa só com sons do país. O repertório abrange diversos ritmos diferentes e artistas que fazem sucesso por aqui. Dá para ter uma boa noção do que é esse país musicalmente e constatar as semelhanças com a musicalidade caribenha e baiana. O programa está dividido em 2 partes. Basta clicar no link abaixo para ser transportado para minha página no podomatic e ouvir. Aos poucos vou tentar fazer seleções de coisas interessantes que ouço e postar aqui.

Luvas brancas e a cidade da varanda do Fino

Tem uma história perversa a lei que obriga os policiais de trânsito daqui a usarem luvas brancas. Se você vir algum policial sem essa peça, pode ter certeza que ele está infringindo a lei que remonta aos tempos de colônia e foi feita, óbvio, pelos portugeses. A regra era simples: dizia que negros não poderiam tocar documentos dos brancos sem a luva. Para fazê-lo, somente com as luvas brancas. Os portuguêses foram embora ha mais de 30 anos. Estranhamente, a lei permanece.


O Fino do título é um editor gente fina, com trocadilhos, que está aqui ha mais ou menos 5 anos e que nesse domingo fez um chá de casa nova. O cara agora mora em um apartamento de último andar onde foi possível fazer as fotos acima. Em breve posto mais. Bom dia para todos!

Cacoaco


É setembro. Por aqui, o cassimbo está quase no fim, mas insiste em adiar a sua despedida. Os dias permanecem nublados por um cinza que contrasta com o rosa-salmão das casas antigas. O sol da nova estação espreita e, aos poucos, vai com moderada obstinação tentando surgir em pequenas frestas. Aqui e ali, é possível ver uma luz diferente da dos últimos dias. Ela é mais frequente agora. Mas dura apenas alguns momentos. Prenúncios de um verão que todos aguardam ansiosamente. Hoje estou reunindo as memórias como quem arruma uma casa nova, cheia de lembranças de um tempo que ainda está por vir. É estranho como ocupamos o nosso tempo quando estamos distantes. São pequenas fugas para que a gente não possa nunca se anoitecer.



Estar longe de casa é ser forte e vulnerável ao mesmo tempo. É existir sendo sempre o outro. Objeto de olhares e desconfianças. É ser colocado em um mostruário para que todos notem as diferenças. E se ver por outros olhos enquanto se é constantemente visto e transformado.




Os rostos na direcção contrária das calçadas às vezes parecem dizer “simplesmente não pergunte, apenas observe, veja, adivinhe”. Outros se abrem como um sol porque justamente buscam algum contato, experiências diferentes e complementares. Finalmente entendo que fronteiras são realidades ilusórias. Atravessá-las é deixar para trás um pouco de si e abrir espaços, antes inexistentes, de compreensão do outro. É lá que negociamos com nós mesmo e com esses “outros” a dimensão da nossa empatia. O quanto queremos esquecer de “lá” para estar “aqui”. No começo é difícil, mas a inconstante felicidade da adaptação depende de derradeiros movimentos como esses.


As fotos são da feira do Cacoaco. É uma espécie de Sete Portas daqui. É padronizada, tem infra, estacionamento, espaço ordenado, mas, ainda assim, um lugar interessante de se visitar. Pode não ser tão original como as de Benfica (bem focada em artesanato) e Roque Santeiro (uma mega São Joaquim local onde é possível encontrar de tudo), mas é um bom passeio quando a intenção é comprar ingredientes para uma moqueca de domingo para relembrar a casa e reunir os amigos.