Musicas e livros para viagem

“A viagem não começa quando se percorrem as distâncias, mas quando se atravessam as nossas fronteiras interiores. A viagem acontece quando acordamos fora do corpo, longe do último lugar onde podemos ter casa.” Mia Couto, O outro pé da sereia.


Ontem eu dormi pensando que apesar da distância dos grandes centros, todas as dificuldades de acesso e a qualidade da banda larga, que não ajuda, nunca ouvi tantos sons legais e diferentes quanto nesse curto período que estou aqui. Nessa jornada, a música tem sido companhia fundamental e cada vez mais presente em todos os momentos. Não falo só de música angolana, que estou apenas começando a conhecer - tendo cuidado para separar o joio do trigo para não enterrar o pé no terreno movediço do "exótico" -, mas de todo tipo de música. Tenho a sorte de trabalhar em uma sala onde todos ouvem, gostam de conhecer e de trocar novos sons. E isso, de certa forma, ajuda a deixar o ambiente mais tranquilo e faz o trabalho faz fluir com mais leveza.

Um cara que eu tenho ouvido muito é Just Jack. Recomendo e sei que vai, em breve, fazer a cabeça de muita gente. O álbum Overtunes, recém lançado, é pop e é perfeito. O cara não se apega muito a nenhum estilo e passeia por várias influências. São melodias solares com letras muito boas. Os hits são I talk Too Much, Life Story e a sensacional Mourning Morning. Outra descoberta, que para muita gente já é “das antigas”, mas para mim é novidade é Lokua Kanza. Ele nasceu no Congo, tem profundidade musical, estudou os clássicos, já tocou no Brasil e faz músicas de uma beleza impressionante, como Kumba Ngai e Sallé. É ouvir e levitar. Junto com esses, tenho ouvido muito também bandas como Glass Candy, Professor Genius, Boss AC (de Cabo Verde, muito bom) e, do Brasil, The Twelves e Kassim +2. Tem tudo no soulseek, no emule e no myspace.

Junto com a música os livros. E depois de “Quem me dera ser onda”, um livro-quase-um-conto leve e divertido do angolano Manoel Ruy, quem está mandando no criado mudo agora é o “O outro pé da sereia”, do escritor moçambicano Mia Couto. A profundidade e beleza da sua narrativa cheia de poesia e de imagens desconcertantes e a capacidade de inverter o pensamento do leitor, fazendo-o olhar de outro ângulo situações corriqueiras, estão me impressionando muito. Sem contar que a história dos personagens é mesmo sensacional: a relação de Mwadia, que tinha “corpo de rio e nome de canoa” e Zero, que tem em seu pescoço cicatrizes que ele diz serem guelras, herança da metade de sua alma que é peixe. Nessa história, aculturação, crenças antigas, mistérios de serias e padres, busca da identidade cultural e referências à colonização africana se misturam num romance que, com certeza, merece todos os prêmios que vem ganhando. Altamente recomendado.

3 comentários:

Anônimo disse...

Pronto, Black (Urso, Dezinho, Andre...)!

Agora estou up-to-date com seu blog.
Aguardo novos posts.

Bjs e saudades!

Chico Neto & Fabi

Anônimo disse...

hehehe , valeu. Vcs são fixe!

dinha ferrero disse...

meu amor...que saudade!!!
obrigada pelas dicas incríveis de livros e músicas.
a viagem começa quando eu acesso seu blog... e através de seus olhos posso levitar...
beijinhos
dinha