Terra Amarela e o topo dos prédios



Luanda tem uma poeira amarelo pálido que deveria ser um dos símbolo do país. Todas as ruas aqui são impregnadas pela poeira dessa terra, que a princípio parece feia aos olhos. Mas um dos grandes segredos para entender Luanda é conviver bem com a sua poeira, que é a verdadeira dona das ruas da cidade e que se arrasta com o vento, de um ponto a outro, como se fizesse um constante reconhecimento dos seus domínios. Aos poucos, ela vai se impregnando em você da mesma maneira que ela faz com as ruas amareladas. Na verdade, a poeira é o exemplo mais óbvio de que essa terra está entrando em você. Penetrando de um modo sutil, como um perfume estranho de notas complexas.


Ontem à noite Luanda parou. Nas ruas, que normalmente exibem um trânsito caótico, não havia um carro. Pessoas passando a pé só se via esporádicamente. Ermo nas ruas, mas um som descomunal vindo de dentro das casas. Um espetáculo estranho, mas que estamos bem acostumados a ver no Brasil em final de copa do mundo. Era a abertura do Afrobasket, que é, como o próprio nome diz, o campeonato africano de basquete. O esporte aqui goza de alta popularidade e, apesar da escassez de quadras, o povo pratica com a mesma intensidade e reverência do futebol. Em cada bairro, o espaço descampado que no Brasil seria um campo para partidas de futebol, aqui é, primeiramente, uma quadra de basquete. O resultado disso é que Angola vem evoluindo nesse esporte e foi campeã das últimas 3 edições do Afrobasket. A cada ponto, ouvia-se quase todas as vozes de Luanda em uníssono comemorando. O time da casa venceu Ruanda por 109 a 65, como se fosse uma final de copa do mundo. E as pessoas continuam jogando basquete em quadras armadas nos topos dos prédios.

As fotos acima são de Maira, tiradas do topo do prédio da Orion, que é onde trabalhamos. Ainda não consegui nenhuma imagem que fosse interessante para dar idéia da cidade. Quem sabe no próximo post.

3 comentários:

Anônimo disse...

Gostoso demais ler seus textos e me sentir tão perto, tão dentro das histórias...
beijo grande, e já... saudades!
Dhyan

Unknown disse...

Meu amigo, as coisas aqui estão tranquilas, e o que mais me impressiona é o silêncio do ap, exceto pela vizinha da frente (Keneddy) que me acorda de vez em quando ensaiando gritos de prazer (senão de dor hehe). Muito bom ler seu blog, é quase te ter perto e bater o papo leve e profundo que lhe é característico. Você ficou de me dar o telefone do sujeito que bateu em seu carro...tenho que ver isso. O resto tem caminhado. Abraços.

Ivo Michalick disse...

Oi André,

Aqui é o Ivo de BH, soube da sua ida pra Angola via Claudio, que por sinal esteve aqui em casa há algumas semanas. Engraçado, ultimamente tenho ouvido falar muito sobre Angola: um amigo foi aí dar uma consultoria, outro está trabalhando em Benguela e vai ficar um ano, sábado passado estive no Rio e fui num clube na Lapa cheio de angolanos e com o DJ tocando um pouco de Kuduro, e agora fico sabendo de você por aí... Sincronicidade?!

Um abração, e boa sorte!

Ivo