Ya, kamba. Fixe?

Depois de entregar os pontos e ser derrotado pela insônia, que resolveu visitar o meu quarto às 4 da manhã, peguei o ipod no criado mudo e decidi esperar o sol nascer ouvindo música. Ali, vendo a minha madrugada limitada à companhia randômica do aparelho, descobri o Long Blondes, que até então achava primário demais e superestimado. Ainda acho. Mas naquele momento, não sei por qual motivo, fez todo sentido ouvir a vocalista tosca tirando uma de sexy por cima de um roquezinho (inho mesmo), bem básico, me convidando para jogar dardos. Quando o sol finalmente deu o ar da graça, o sono veio. Mas aí era eu que não queria mais nada com ele. Peguei a câmera e resolvi dar uma volta a pé pelo centro da cidade. Queria vê-la acordando, mais calma, sob uma outra luz. Queria. Pois não era nem 7 e Luanda já fervilhava, cheia de carros e gente correndo para todos cantos, trabalho, compromissos, lugar nenhum. O sol forte no céu poluído deixava a cidade ainda mais quente. Como a ponta de um cigarro que queima obsessivamente apenas porque tem que queimar. Trânsito, caos, engarrafamento, fumaça. A cidade acordou antes de mim e a semana começou frenética.


Dizem que o governo de Angola contactou Oscar Niemayer para desenhar o projeto de uma nova Luanda, mais ao norte da capital atual. Dizem que o governo de Angola tem planos de fazer de Luanda uma nova Dubai. Dizem tanta coisa, mas a verdade é que vivendo o dia-a-dia aqui toda essa história adquire uma outra dimensão. A cidade, que foi planejada para 2 milhões, hoje abriga 5 milhões de pessoas. Falta calçada, água, luz, saneamento. Falta muita coisa, mas a cidade vai se modernizando e o diálogo das novidades com a arquitetura antiga, deixada pelos portugueses, que sairam daqui pouco mais de 30 anos atrás, se dá numa língua estranha e ainda incompreensível. Inclusive para os que vivem aqui. Mas são os primeiros traços de um processo que parece inevitável e irreversível.




Nas ruas o tráfego é formando por, basicamente, 4x4 importadas de marcas e modelos que nunca vi aí no Brasil. Todas grandes e imponentes. Hummer, que acho que em Salvador só tem um – aquele amarelo, que anda sempre na Vitória – , aqui parece até carro popular. O vizinho tem um e em qualquer lugar que você vá avista exemplares de corres quase sempre berrantes. Mas isso ainda é o retrato de uma pequena elite que está se beneficiando do crescimento do país. A grande maioria mora em mousseques ( as favelas) e anda de kandongas ( as temidas vãs azuis assassinas...).

Incrível mesmo é a presença aqui da China (aliás em toda a África). Eles querem e precisam do petróleo do continente para continuar crescendo e para isso não hesitam em mandar batalhões de técnicos e trabalhadores para encontrar e explorar jazidas. Não vai ser nada estranho se em breve aqui houver mais uma filial da Chinatown. Vi também muitos indianos, que junto com os brasileiros formam a trinca de países com mais negócios no país e que estão ajudando a impulsionar o crescimento de Angola. Dos Brics só faltou a Russia, que não notei, mas esperta que é deve estar na área também. O que vai sair dessa salada, o modo como a exploração dessas reservas vai ser feita e o impacto que vai ter na natureza local é a grande pergunta que fica.





3 comentários:

Anônimo disse...

dezinho,

é impressão minha ou luanda é cheia de prédios cor-de-rosa? além dos textos maravilhosos, fotógrafo 10!!!

Anônimo disse...

Pois é, Agnes. Isso também me impressionou bastante. Mas a verdade é que pela cidade toda você vê prédios públicos pintados dessa cor ou tons bem parecidos. E as casas particulares tambem. Muitas delas seguem essa tradição... Fico até com medo de que pareça sempre a mesma foto :)

Anônimo disse...

Aprendi muito